terça-feira, 30 de junho de 2009

Preciso

Preciso urgentemente de adquirir meia dúzia de valores absolutos,
inexpugnáveis e impenetráveis,
firmes e surdos como rochedos.

Preciso urgentemente de adquirir certezas,
certezas inabaláveis, imensas certezas, montes de certezas,
certezas a propósito de tudo e de nada,
afirmadas com autoridade, em voz alta para que todos oiçam,
com desassombro, com ênfase, com dignidade,
acompanhadas de perfurantes censuras no olhar carregado, oblíquo.

Preciso urgentemente de ter razão,
de ter imensas razões, montes de razões,
de eu próprio me instituir em razão.
Ser razão!
Dar um soco furibundo e convicto no tampo da mesa
e espadanar razões nas ventas da assistência.

Preciso urgentemente de ter convicções profundas,
argumentos decisivos,
ideias feitas à altura das circunstâncias
.

Preciso de correr convictamente ao encontro de qualquer coisa,
de gritar, de berrar, de ter apoplexias sagradas
em defesa dessa coisa.


Preciso de considerar imbecis todos os que tiverem opiniões diferentes da minha,
de os mandar, sem rebuço, para o diabo que os carregue,
de os prejudicar, sem remorsos, de todas as maneiras possíveis,
de lhes tapar a boca,
de lhes cortar as frases no meio,
de lhes virar as costas ostensivamente.
Preciso de ter amigos da mesma cor, caras unhacas,
que me dêem palmadinhas nas costas,
que me chamem pá e me façam brindes
em almoços de camaradagem.
Preciso de me acocorar à volta da mesa do café,
e resolver os problemas sociais
entre ruidosos alívios de expectoração.
Preciso de encher o peito e cantar loas,
e enrouquecer a dar vivas,
de atirar o chapéu ao ar,
de saber de cor as frequências dos emissores.
O que tudo são símbolos e sinais de certezas.
Certezas!
Imensas certezas! Montes de certezas!
Pirinéus, Urais, Himalaias de certezas!


António Gedeão

Carolina

sábado, 27 de junho de 2009

Simples:

Gosto de frases curtas.

Carolina Duarte

Mess

Desde que me lembro que a palavra gaveta me assusta, talvez porque a sua função, ou seja, local onde se arrumam as coisas, nunca teve esse mesmo significado para mim. Gaveta é o local onde se põem as coisas só para não ficarem à vista, caso ofendam os mais sensíveis.
Ao que eu chamo de gaveta pode-se encontrar folhas brancas (que há anos guardei talvez por pensar serem úteis um dia) e rasgadas (devido à idade avançada que possuem, uma vez eu nunca me lembrar que elas existiam), marcadores de livros (que não uso), panfeletos, postais, a conta do jantar no Joshua's Shoarma de 2006, uns bilhetes de cinema (o nome dos filmes torna-se um verdadeiro mistério devido à erosão do tempo). Ah! Muito importante. O diário que comecei quando andava no 4ºano e que, pronto, ocupa cinco páginas (sendo três delas, desenhos e bonecada), pois para mim ter (manter) um diário sempre foi missão impossível. Uma agenda plastificada que tinha quando era mais nova (cheia de números e endereços que não faço a mínima ideia quem sejam), aqueles conjuntos de réguas, tranferidores e esquadros, estojos só com borrachas sujas e aparas de lápis, e.... mais nada. Isto sim é a minha definição de gaveta.

Tal como a palavra gaveta, a palavra cadeira não apresenta também a sua função base. A minha cadeira tem função de mesa de apoio e cabide. Desde casacos e sobretudos do Inverno passado (constituindo a base de todas as camadas), ao casaco de malha que precisa de ser cosido na manga esquerda (que ainda espera por tal oportunidade), à roupa usada na noite anterior.
Com função de cabide, há ainda as maçanetas, que de cada um dos lados da porta seguram malas até nenhuma delas cair.

Não vamos falar do roupeiro.

Isto tudo para dizer que ontem tomei uma decisão marcante e inovadora, arrumar o meu quarto.
Tarefa árdua.

Carolina

sexta-feira, 26 de junho de 2009

1958-2009


Ontem recebi a seguinte mensagem : 'O Michael Jackson morreu'. Fiquei sem reacção.

Não há música comparável, nem sensação que se assemelhe quando se ouve Beat It, Thriller, Bad, Smooth Criminal, Black Or White ou a incomparável, Billie Jean.

Uma única palavra: Genius.

C.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Pé no sal

Surpreendente a forma como aquelas luzes aprisionaram todo o momento em que me situava.
As ondas estavam fracas, massajavam-me os pés e salpicavam-me as mãos que seguravam os sapatos. Percorri por alguns minutos aquela areia inundada de memórias.
A noite estava a saber tão bem.
Olhei para trás e vi a linha de luzes pelo areal. Era magnífico.
Soube a ... Chocolate

Carolina.

domingo, 7 de junho de 2009

Mesmo que não exista.

'...é um não querer dizer e estar dizendo, é um não-sei-que que não entendo...'

E quando os teus dedos tocaram a minha face, quando começaste a brincar com o meu cabelo, quando descobriste os meus olhos e os acariciaste... No escuro. Pareceu, finalmente, estar tudo bem. Nesse momento tiveste a capacidade de me fazer esquecer de tudo o que de mau passámos, foi como se de uma paragem no tempo se tratásse. Sim, tu estavas mesmo ali, a meu lado. E quando dei por mim, estava de olhos fechados como se estivesse a ouvir uma melodia de piano ao longe, calma. Quando os abri, tu, estavas a olhar para mim, e bricaste com o meu nariz, e fizeste-me cócegas. Rimos. Tal qual como se não se tivesse passado nada. Tal qual como se não tivéssemos discutido... Tal qual...
Incostante, senti-me.
Percebi que te odiava... por seres importante demais para mim.
Não sei quem sou quando estou contigo. Se calhar não sei quem sou sem ti.
Adormeci a sentir o teu bater de coração bem debaixo da minha mão. Como se ele tivesse pousado sobre elas e ali quisesse ficar.
Para sempre.
Consegues fazer com que o meu mundo páre só ao proferires palavras que me magoem. Costumo superar bem quando isso acontece, não dando alguma importância. Mas tu. Tu. Tu consegues fazer com que me perca em mi mesma, fazendo com que tenha dúvidas à cerca das minhas próprias certezas.
És complexo. Embora não o aparentes ser.
Mas eu sei.
Quero que deixes o que te deixa vivo bem perto das minhas convicções. Quero perceber-te mesmo sem trocarmos uma palavra. Quero...


Amigo é aquele que diz eu amo-te sem qualquer medo de má interpretação.
Amigo é para sempre, mesmo que o sempre não exista.

Carolina

Às vezes.

sábado, 6 de junho de 2009

Pisang Abon

Luz fragmentada que fez sentir dividida em flashes.
Camada de nebelina que me fez sentir emersa de paz.
Ritmo que acompanhava o cardíaco. Ou não.

Foi tão bom.
Mas... Não há nada como a primeira vez.

Si Ef

terça-feira, 2 de junho de 2009

Tenho medo
De não viver tempo suficiente
Para deixar registado
Os mil e um recantos da minha mente

Carolina

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Eterna juventude.

É como o dia da mãe, como o dia do pai, até mesmo como o dia dos namorados...
Porquê a existência de um dia? Porquê disponibilizar 24h de piroseira, dinheiro propositadamente gasto (isto só para não ficar mal) num presente, ainda mais piroso por sinal?

Receber um postal ou flores no dia da mãe?
Receber um livro ou gravata no dia do pai?
Receber rosas vermelhas ou peluches no dia dos namorados?

(por favor...)

Se for para dar alguma coisa, ao menos que seja algo e não uma coisa.

Mas, não procurando desvalorizar estes 'dias', aqui fica:

Peço desculpa às crianças por ter dedicado este livro a uma pessoa crescida. Tenho uma grande desculpa: essa pessoa crescida é o melhor amigo que tenho no mundo. Tenho uma outra desculpa: essa pessoa crescida vive em França onde passa fome e frio. Bem precisa de ser consolada. Se todas estas desculpas não bastam, quero dedicar este livro à criança que foi outrora essa pessoa crescida. Todas as pessoas crescidas foram primeiro crianças. (Mas nunca se lembram disso). Corrijo pois a minha dedicatória.


Antoine de Saint-Exupéry, em O principezinho


Feliz Dia da Criança. A todos.

Carolina