domingo, 9 de maio de 2010

29.


Quis que te esquecesses de mim. Eu sei que não foi bem assim, mas foi assim que o senti violentamente quando o telefone deixou de tocar, quando essa voz agora soluça no forro daquilo que fui se tornou coreografada. Eu perguntava-te: « O que fizeste ontem?» e tu davas três piruetas e quatro passos atrás, elegantérrimo. Maldito. Trocaste-me por alguém, um entusiasmo novo, assim é o amor. Fiquei em ti mas deixaste de precisar de mim, e por isso precisei ainda mais de ti.
Tantas vezes eu já te esquecera - mas essas não contavam. Meti-me na cama, chorei uma semana sem parar.

(...)

Se não te esquecesses tanto, nunca te terias lembrado de gostar de mim. A maioria das pessoas selecciona as recordações para usar como bóias: aqui fui feliz, é aqui que vou ficar. Ou então: aqui fui infeliz, e daqui não quero passar. Distinguem-se assim, para uso quotidiano, optimistas e pessimistas - recordadores profissionais.

Quantos amigos tiveste de esquecer, incorporar na tua pele, para chegares ao amor de mim? Quantas palavras tiveste de esquecer para que pudesses dizer-mas pela primeira vez? Quantas pessoas serás ainda capaz de amar melhor do que nós os dois juntos alguma vez amámos, por amor de nós?


Fazes-me falta, merda. Alguma vez to disse?


I. Pedrosa